Estas críticas feitas por esta investigadora, são bem reportadas num artigo que esta escreveu em 2008, juntamente com Karl Maton and Lisa Kervin, intitulado "The ‘digital natives’ debate: A critical review of the evidence".
Segundo estes investigadores não se pode falar de uma generalização de uma geração que utiliza de forma unânime a internet. Parece existir evidências de que a familiaridade com as novas tecnologias depende em muito do status sócio-económico (factor que verificamos nas entrevistas que realizamos, na Actividade 4 desta uc), do background cultural e étnico, do género e em que áreas do saber o sujeito se tem especializado. Apesar de considerarem que existem alguns jovens com grandes apetências e competências para o uso das novas tecnologias, parece subsistirem muitos com aptidões e níveis de utilização que não permitem considerar a ideia de uma geração de nativos digitais.
Por outro lado, estes autores criticam o facto de se considerar que esta geração aprende de forma diferente, porque é capaz de realizar tarefas múltiplas. Encaram que, já em gerações anteriores, havia jovens capazes de executar várias tarefas em simultâneo, como por exemplo, fazer o TPC e ver TV. Por outro lado, se nos formos centrar na investigação cognitiva existente, a recepção de diferentes estímulos em competição provoca uma diminuição da concentração, o que não pode ser considerado um factor positivo para o processo educativo. Estes autores, chamam também a atenção para o facto de que não é por se popularizar o uso diário de algo, que esse “algo” passa directamente a ser benéfico para usar no processo educativo.
Para estes autores, deve-se ter cuidado quando se tenta evidenciar que é fulcral alterar os estilos de ensino, tendo em consideração as alterações desta nova geração de nativos digitais. Até porque, é consensual na área das ciências da educação que o processo de ensino-aprendizagem será mais vantajoso se se tiver em consideração os diferentes estilos de aprendizagem e não aqueles que se imagina serem unânimes a toda uma geração.
Para Bennett, Maton e Kervin a ideia de uma nova geração de nativos digitais, não passa de um “pânico moral”. Consideram que antes de se efectuar alterações radicais na escola e no sistema de ensino, é necessário esperar por investigações verdadeiramente fundamentadas que prevêem a necessidade destas modificações.
Penso que este artigo ajuda-nos a ter uma visão mais crítica sobre esta ideia de se ter de rapidamente alterar radicalmente os modelos de ensino actuais, que segundo Prensky e outros autores defensores de uma nova geração completamente díspar das anteriores, tem de se adaptar a estes novos Nativos Digitais. Considero que, apesar de ser apologista do uso das TIC no ensino, devemos analisar com maior cuidado toda a investigação que se realize sobre estas temáticas, para não cairmos no erro de sermos influenciados por só um dos lados.
Até porque, todos nós formadores e docentes temos, pessoalmente, a noção de que, pelo menos em Portugal, não há ainda uma real geração de Nativos Digitais. Só o telemóvel parece ser um objecto de domínio quase unânime entre as novas gerações. Os nossos formandos e alunos, não dominam as TIC, tal como preconiza Prensky e, tal como verificamos nas entrevistas, a utilização e domínio das competências TIC varia muito de jovem para jovem. Se Prensky estiver correcto, penso que a real geração de Nativos Digitais em Portugal, ainda se encontra a frequentar os primeiros anos do Ensino Básico.
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