sexta-feira, 16 de julho de 2010

A noção de geração de Nativos Digitais será um mito?

Nem todos os investigadores concordam com a noção de que toda uma nova geração tem mais proficiência no uso das novas tecnologias. Um desses investigadores é Sue Bennett da Universidade de Wollongong, na Austrália. Para esta autora, existem realmente diferenças entre as gerações, mas isso não é expressivo ao ponto de considerar que uma geração é especialista no uso dos média, contrariamente às gerações anteriores. “As diferenças dentro dessa geração são tão grandes quanto o que os distinguiria da geração dos mais velhos.”
Segundo uma entrevista realizada pela Revista brasileira Época, para Bennett não é verdade que todos os jovens tenham uma intimidade inata com as tecnologias digitais e a noção de Nativo Digital é um mito que ajudou algumas pessoas a tornarem-se famosas: “É algo que soa bem. Vem de acordo com nosso senso comum, embora ninguém tenha investigado de verdade.”
Estas críticas feitas por esta investigadora, são bem reportadas num artigo que esta escreveu em 2008, juntamente com Karl Maton and Lisa Kervin, intitulado "The ‘digital natives’ debate: A critical review of the evidence".

Segundo estes investigadores não se pode falar de uma generalização de uma geração que utiliza de forma unânime a internet. Parece existir evidências de que a familiaridade com as novas tecnologias depende em muito do status sócio-económico (factor que verificamos nas entrevistas que realizamos, na Actividade 4 desta uc), do background cultural e étnico, do género e em que áreas do saber o sujeito se tem especializado. Apesar de considerarem que existem alguns jovens com grandes apetências e competências para o uso das novas tecnologias, parece subsistirem muitos com aptidões e níveis de utilização que não permitem considerar a ideia de uma geração de nativos digitais.
Por outro lado, estes autores criticam o facto de se considerar que esta geração aprende de forma diferente, porque é capaz de realizar tarefas múltiplas. Encaram que, já em gerações anteriores, havia jovens capazes de executar várias tarefas em simultâneo, como por exemplo, fazer o TPC e ver TV. Por outro lado, se nos formos centrar na investigação cognitiva existente, a recepção de diferentes estímulos em competição provoca uma diminuição da concentração, o que não pode ser considerado um factor positivo para o processo educativo. Estes autores, chamam também a atenção para o facto de que não é por se popularizar o uso diário de algo, que esse “algo” passa directamente a ser benéfico para usar no processo educativo.
Para estes autores, deve-se ter cuidado quando se tenta evidenciar que é fulcral alterar os estilos de ensino, tendo em consideração as alterações desta nova geração de nativos digitais. Até porque, é consensual na área das ciências da educação que o processo de ensino-aprendizagem será mais vantajoso se se tiver em consideração os diferentes estilos de aprendizagem e não aqueles que se imagina serem unânimes a toda uma geração.

Para Bennett, Maton e Kervin a ideia de uma nova geração de nativos digitais, não passa de um “pânico moral”. Consideram que antes de se efectuar alterações radicais na escola e no sistema de ensino, é necessário esperar por investigações verdadeiramente fundamentadas que prevêem a necessidade destas modificações.

Penso que este artigo ajuda-nos a ter uma visão mais crítica sobre esta ideia de se ter de rapidamente alterar radicalmente os modelos de ensino actuais, que segundo Prensky e outros autores defensores de uma nova geração completamente díspar das anteriores, tem de se adaptar a estes novos Nativos Digitais. Considero que, apesar de ser apologista do uso das TIC no ensino, devemos analisar com maior cuidado toda a investigação que se realize sobre estas temáticas, para não cairmos no erro de sermos influenciados por só um dos lados.
Até porque, todos nós formadores e docentes temos, pessoalmente, a noção de que, pelo menos em Portugal, não há ainda uma real geração de Nativos Digitais. Só o telemóvel parece ser um objecto de domínio quase unânime entre as novas gerações. Os nossos formandos e alunos, não dominam as TIC, tal como preconiza Prensky e, tal como verificamos nas entrevistas, a utilização e domínio das competências TIC varia muito de jovem para jovem. Se Prensky estiver correcto, penso que a real geração de Nativos Digitais em Portugal, ainda se encontra a frequentar os primeiros anos do Ensino Básico.

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